quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sem predadores, pragas avançam

Espécies nocivas que frequentam o ambiente urbano estão se proliferando com rapidez pela falta de predadores naturais

A proliferação de pragas urbanas, como o mosquito da dengue, baratas, cupins, formigas, pombas e outras espécies tem uma explicação biológica. Ela ocorre pela falta de predadores naturais. O mosquito Aedes aegypti, por exemplo, não estaria causando tanto estrago se a população de anfíbios, como sapo, rã e perereca não estivesse quase extinta em Bauru. O mesmo pode ser dito do beija-flor, um dos mais eficientes aliados contra o dengue no perímetro urbano.

Isso porque o período crítico do dia para o ataque do Aedes é o fim da tarde, quando eles invadem as residências. E é justamente nesta hora que o beija-flor costuma entrar em ação. Em questão de segundos, eles são capazes de devorar “nuvens” de pernilongos.

Outro importante aliado é a lagartixa, animal inofensivo e um incansável vigilante noturno das paredes das residências. É outra espécie cada vez mais rara. No caso dos anfíbios, eles são úteis para o controle da população por se alimentar de larvas enquanto girinos e dos insetos quando adultos.

Além dos mosquitos, incluindo aí o Aedes, eles se alimentam de outras pragas como formigas e baratas. Para o biólogo Daniel Contieri Rolim, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), o fato do sapo, rã e perereca serem vistos por grande parte da população como animais repugnantes tem dificultado a presença deles no ambiente urbano.

A destruição do seu habitat natural, como os riachos, brejos, lagoas e a vegetação que cerca esses cursos d’água é apontada pelo biólogo como outro obstáculo para a preservação da população de anfíbios. Daniel estuda a espécie há cinco anos. Recentemente, ele encontrou no Jardim Botânico de Bauru o sapo escavador do Cerrado, que está na lista das espécies mais ameaçadas do mundo.

De acordo com o estudo apresentado pelo biólogo, a espécie é caracterizada pelo seu tamanho bastante reduzido. Enquanto a fêmea atinge, em média, cerca de 35 milímetros, o macho não ultrapassa os 27 milímetros, também em média.

O também biólogo Hudson Moggioni Munhoz destaca que grande parte das pragas urbanas são espécies invasoras, que não possuem predadores naturais no Brasil. Por isso, proliferam com mais facilidade. Fazem parte dessa lista o rato, pomba, caramujo africano, barata e até o mosquito da dengue, entre outros.

“São espécies que encontram predadores em seu habitat natural, mas quando são levadas para outras regiões e países, os predadores não vão junto. Então, esse quadro propicia a proliferação”, aponta.

Hudson explica que no ambiente natural das espécies invasoras, elas procriam em grande quantidade porque só uma pequena parcela dos filhotes vai sobreviver. Quando essas mesmas espécies estão fora de seu ambiente, elas mantém o mesmo modo de vida, depositam a mesma quantidade de ovos, mas como estão livres dos predadores naturais, o índice de sobrevivência da espécie é muito maior, o que provoca uma superpopulação. A tarefa de manter o controle sobre essas pragas fica a cargo dos predadores eventuais, que não têm a mesma eficácia.



Waldomiro Rett, um especialista no combate a formigas e cupins, diz que seu trabalho tem aumentado nos últimos anos por conta da propagação dessas duas espécies. Segundo ele, o desaparecimento de sapos (novamente eles), corujas, tamanduá-bandeira e de algumas aves do ambiente urbano tem contribuído para o desequilíbrio da fauna sinantrópica nociva - aquela que pode causar dano à saúde do homem.

Ele ressalta que a maioria dos insetos só saem à noite para se proteger dos ataques das aves. Por isso, animais como a coruja, uma ave tipicamente noturna, é essencial para o equilíbrio da fauna no ambiente urbano.

A proliferação de canaviais é apontado por ele como uma agravante para o extermínio das corujas, que costumeiramente se abrigam em árvores. Já as aves que atuam durante o dia têm a importante tarefa de se alimentar da formiga içá, que é a fêmea da saúva e a responsável pela formação de novos formigueiros.

O tamanduá-bandeira, por sua vez, alimenta-se tanto de formigas quanto de cupins, mas encontrar um tem se tornado tão difícil quanto ganhar na loteria.

Adilson Camargo

(Matéria publicada no Caderno Geral do Jornal Cidade de Bauru, em 19/06/2011).
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4 comentários:

  1. Oi Pri! Obrigada por me seguir! Passei aqui e amei seu blog menina (será q é pq sou bióloga tb?!) Bjos! Otimo fds!

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  2. Valeu pelo apoio Pri...estarei sempre à sua disposição! Um abração!

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  3. Muito interessante e util o seu blog..... saudações, Ivo Cesar. prosperitus@gmail.com

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